sábado, 1 de janeiro de 2011

Todo Mundo Tem Um Mundo

Feliz ano novo aos leitores!
Viajei de Porto Alegre até Cristal, uma cidadezinha interiorana super simpática, a uns 200km de distância da capital gaúcha. Chegando aqui na casa de meu avô, percebe-se a tranquilidade que os idosos que residem aqui desfrutam. Meu avô completará 83 anos em Maio de 2011, e mora aqui desde novembro de 2008. A cidade tem 2.000 habitantes urbanos e 4.500 rurais, e além de muito prática, é tranquila de se viver, não tem ruas contra-mãos, deve ter uns 5 ou 6 quebra-molas, também não tem sinaleira, e a tranquilidade no lugar não pára só no meio transital. 31/12/2010, data em que os Porto Alegrenses tem que ficarem privados em suas casas, em suas festas, e em sua vida, Cristal fica com as portas abertas, conhecidos que passam na rua gritam um feliz ano novo distante, respondido sempre com muita educação, é a paz e a solidariedade que sempre existe nas pequenas cidades, que como tudo na vida, tem prós e contras, apesar de que um ponto de vista mais inferior veja muito mais coisas pró.
Aí eu resolvi começar a pensar sobre as pessoas que aqui moram, em tanta tranquilidade, o que se faz? Os 4.500 rurais plantam soja, fumo, arroz e milho. E os 2000 restantes? Bom, se você quer um lugar pra abrir um mercado, com certeza Cristal NÃO É o seu lugar. Acho que já vi quatro mini-mercados em uma mesma rua, e olha que uma rua aqui deve ter no máximo 40 casas. A concorrência é desleal. Quando se fala em comércio, Cristal não tem muita amplitude, nem muita variedade, mas tem muita quantidade. Lojas alternativas, daquelas que vendem desde parafuso até roupa tamanho 64, só tem uma, lojas comuns que vendem roupas, acho que umas três, e mercadinhos, com certeza mais de 10, se for contar os mini-mercados, é claro.
O maior "defeito" da cidade, é que uma parte do loteamento foi feito do lado esquerdo de quem vem da capital, pela BR-116, e outra parte do lado direito. Isso complica muito a vida de quem vive do lado direito, como meu avô e sua esposa, por exemplo. Por esse lado ter surgido posteriormente, e ter sido loteado depois também, é bem menos habitado, bem menos comercializado, e de uma forma ou outra, precisamos atravessar a BR-116 com trevos e rotatórias mal feitas quando precisamos de algum produto mais específico.
Mas voltando ao assunto dos agricultores. Eles são os "pequenos bonecos" das grandes empresas que industrializam o fumo, por exemplo, que é o ramo em que tenho mais contato (todos os primos são plantadores). Eles só trabalham no fumo, sua vida é a lavoura. A lavoura não tem dia, não tem hora, não tem sábado, não tem domingo, não tem feriado. Se choveu ontem, mesmo que hoje seja domingo, terão que plantar hoje, pois amanhã pode não vingar mais tão bem quanto vingaria hoje, e a safra pode ser perdida por apenas 12 horas de preguiça. Hoje é sábado, dia 1/1/2011, e fomos até a beira da "praia" que tem no rio Camaquã (mesmo nome de uma cidade próxima, surgida, é claro, após o rio), e após ver muitos agricultores sentados na beira da praia tomando cerveja eu me pergunto, vale a pena?
Vale a pena ficar debaixo do sol 11 horas por dia, pra passar o dia do ano novo tomando uma cerveja, e chegar em casa domingo, e voltar á amarrar fumo em vara e carregar estufa?
Sinceramente, eu tenho é muito respeito e admiração por toda essa gente, que trabalha sem reclamar da vida, sendo produtores primários, sendo o que sustenta não só a indústria tabagista, mas também a graneleira do país, sem sequer se perguntar um minuto se o que estão fazendo é bom pra eles. Não vou citar nomes, mas conheço uma mulher de 37 anos moradora da região, que á julgar pelas aparencias, eu chutaria uns 45 anos de idade, destruída pela lavoura, e pelos problemas da vida que todos temos.
Meus parabéns fumicultores, plantadores de milho, de soja, de arroz, de cana, de beterraba, de melancia, e das infinidades de coisas deliciosas que podemos provar aqui.
Eu não poderia deixar de citar o mito de Platão, sobre o homem que levava a pedra até o topo da montanha, aonde uma força maior jogava a pedra lá embaixo novamente e o mandava buscar. E ele fazia o trabalho sem questionar, esses são os agricultores do Rio Grande do Sul, do Brasil, e do Mundo, que além de não questionar, não reclamam, e mantém firme a alimentação básica de todos nós.

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